segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Indústria de máquinas cresce, mas importações preocupam

A indústria de máquinas e equipamentos apresentou o crescimento 14,8% no faturamento nominal nos primeiros oito meses de 2010, somando R$ 70 bilhões no período, segundo estudo do Departamento de Economia e Estatística (DEEE) da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), graças ao aporte do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), implementado desde junho do ano passado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com sua política desenvolvimentista a taxas de 5,5% ao ano para financiamentos
De acordo com Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq, num momento em que a indústria nacional sofria com a voracidade da crise de um ano atrás, o PSI obedeceu a uma lógica anticíclica para compensar a escassez de crédito privado com recursos do próprio BNDES. Na comparação mês a mês (agosto de 2010 com agosto de 2009), o faturamento da indústria de bens de capital foi apenas 4,6% maior, enquanto na análise com o mês imediatamente anterior (julho de 2010 com julho de 2009) a diferença era de 19,1%.
“Isso se deve, inclusive, a uma base de comparação muito fraca, que foi o ano de 2009. No entanto, se compararmos o aumento do faturamento de julho para agosto deste ano, verificamos um crescimento de míseros 2%. O reflexo disso pode ser explicado, também, pelos números de julho de 2010, quando tivemos uma queda do faturamento em 1,6% na relação com junho deste ano”, aponta.
De acordo com o executivo, a sustentação e os sucessivos superávits no faturamento nominal do setor se deve, e muito, às medidas adotadas pelo BNDES. Porém, Aubert faz questão de ressaltar a dificuldade do produto nacional em competir com os importados.
“Em julho deste ano, chegamos ao maior número de importações dos últimos 70 anos. Se o Governo Federal não fizer algo em prol da competitividade do produto nacional, aumentando, ao menos, em 35% a alíquota de importação das máquinas e equipamentos estrangeiros, a indústria brasileira caminhará para um futuro incerto”, declara.
O presidente explica que, para os próximos meses, a tendência de queda no aumento do faturamento nominal da indústria de bens de capital mecânico deve se acentuar. Isso porque, se tirada a participação do Finame no faturamento do setor, que aumentou de 15% para 52% desde o lançamento do PSI, a base de sustentação do segmento de máquinas e equipamentos, o volume de vendas seria muito mais baixo e acabaria por decretar um estado de emergência em toda a indústria.
O consumo aparente de máquinas e equipamentos, soma da produção e das importações menos as exportações, obteve uma elevação acima do faturamento nominal no período de janeiro a agosto deste ano, chegando a 14,9% em comparação aos oitos meses de um ano atrás. A soma chegou a R$ 63,99 bilhões, com aumento da participação das importações no consumo aparente para 43,4% - 1,0% a mais que os cálculos relativos até julho de 2010.
Os dados da Abimaq apontam para um crescimento de 2,2% de janeiro a agosto de 2010, mesma taxa de crescimento registrada de janeiro a julho deste ano, chegando a 82,44% no nível de utilização da capacidade instalada da indústria de máquinas e equipamentos. Porém, Aubert atenta para os números com maior destreza. “A atividade do nosso setor corresponde a apenas um turno de trabalho e ainda contamos com uma margem de ociosidade que foi deixada pela crise financeira”, analisa.
Balança comercial - Seguindo a tendência que vem perdurando durante todo o ano, o déficit da balança comercial se concentra no cerne das preocupações do setor e já acumulou, de janeiro a agosto deste ano, US$ 9,87 bilhões. “O que se nota é descuido ao analisar os índices de uma maneira geral. Quando falamos em aumento de faturamento, logo se cria uma expectativa otimista. Mas, na verdade, o que deve ser refletido é a base de comparação, uma vez que 2009 foi um dos piores anos da indústria nacional, e sem o PSI o setor estaria navegando em mares obscuros”, analisa Aubert.
Durante os oito meses de 2010, o setor exportou US$ 5,6 bilhões FOB, 13,9% acima dos US$ 4,97 bilhões FOB registrados no mesmo período de 2009. No ranking dos principais destinos das exportações de bens de capital mecânico nacional para o mercado exterior, aparece, no primeiro lugar, os EUA, com 16,58% do volume total das vendas, seguido por Argentina, com uma fatia de 11,63%, México, com 6,41% e países Baixos (Holanda), com 5,92%. O Chile vem na quinta posição na lista dos principais compradores dos produtos brasileiros, com uma fatia equivalente a 4,70% do volume de vendas.
Em compensação, as importações cresceram, de janeiro a agosto deste ano em comparação ao mesmo período do ano anterior, 27,7%, contabilizando US$ 15,5 bilhões FOB contra os US$ 12,1 FOB calculados em 2009.
O presidente da associação argumenta que, até o fim do ano, o setor acumulará um déficit equivalente a US$ 12 bilhões, se não forem tomadas medidas para reverter a entrada de produtos do mercado internacional que concorrem, de maneira desigual, com os do mercado nacional, uma vez que o “Custo Brasil” diminui a competitividade das máquinas e equipamentos brasileiros frente aos similares de outros países, principalmente da China.
“Detemos a maior taxa de juros do mundo, maior número de impostos e tributos em um só produto. Isso, comparado aos equipamentos chineses, de menor valor agregado, se torna uma competição predatória. O pior é que o próprio País (Governo) ajuda nesta competição desigual”, reclama Aubert Neto, apontando para as sucessivas altas dos juros (taxa Selic) promovidas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) Banco Central, além da falta de normas e medidas para reverter o quadro.
Empregos - O número de empregos no setor manteve a tendência de ampliação do quadro de pessoal. Em agosto, a indústria de bens de capital mecânico ampliou o número de carteiras assinadas para 248.843. O quadro atual representa um aumento de 0,5% em relação ao mês imediatamente anterior e de 7,7% na comparação mês a mês de do ano anterior (agosto 2010 com agosto 2009).
Fonte: Ipesi Digital

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