segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Importado responde por metade do consumo de máquinas

Sergio Lamucci | De São Paulo
Nos primeiros sete meses deste ano, cinco em cada dez máquinas novas que chegaram às fábricas brasileiras eram importadas, respondendo por metade do investimento feito pelas empresas na modernização e ampliação de sua capacidade produtiva. Por isso, neste período, os bens produzidos fora do país responderam, em volume, por 50,3% do consumo interno de máquinas e equipamentos, percentual quase idêntico aos 50,8% de 2009 e bem acima dos 37,7% de 2004, ano em que o investimento começou a crescer com mais força. A fatia dos produtos fabricados no exterior só não é maior porque as exportações têm crescido a um ritmo modesto, fazendo com que uma parte maior da produção local de bens de capital seja destinada ao mercado interno.
Nos sete primeiros meses do ano, apenas 28,7% da fabricação doméstica de máquinas e equipamentos foi exportada, número bem menor que os 50% de 2004, por exemplo. Todos os números são estimativas da LCA Consultores, com base em informações da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), do IBGE e da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
O volume importado de bens de capital aumenta muito devido à combinação do real valorizado e da queda dos preços em dólar, diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. De janeiro a julho, as importações cresceram 31,3% em relação ao mesmo período do ano passado, um pouco mais rápido que os 28,3% da produção local. As exportações, por sua vez, subiram apenas 11,5% no período. Com isso, o consumo interno de máquinas e equipamentos subiu 30,8% no período, um sinal eloquente do ciclo de investimento em curso.
Uma simulação que leva em conta o movimento do câmbio e dos preços em dólar deixa clara a atratividade dos bens de capital estrangeiros. De janeiro a julho de 2009, uma máquina que custasse US$ 100 mil sairia por R$ 216 mil, considerando o câmbio médio de R$ 2,16. No mesmo período deste ano, a cotação em dólar dos bens de capital encolheu 4,5% em relação aos sete primeiros meses de 2009, o que faria o preço da mesma máquina cair para US$ 95,5 mil. Como o câmbio médio de janeiro a julho deste ano ficou em R$ 1,80, seria possível comprar o mesmo produto por R$ 171,9 mil, 20,4% menos do que em 2009.
"É uma diferença muito expressiva, que ajuda a entender a alta dos importados", diz Borges. Segundo ele, como o Brasil cresce num momento em que a demanda global está fraca, os grandes fabricantes de bens de capital concedem descontos para vender seus produtos por aqui, um país em que o investimento avança bastante. Nos últimos meses, o ritmo de importações de bens de capital se acelerou - em julho, por exemplo, o volume de compras externas subiu 61,8% sobre julho de 2009, bem acima da alta de 31,3% acumulada no ano. Já a produção local desses bens perde força. Em julho, a alta sobre o mesmo mês do ano passado foi de 21,1%, menos que os 28,3% acumulado no ano.
"Com Estados Unidos, Europa e Japão crescendo pouco, os asiáticos direcionam as exportações para países de mercados como os da América Latina", diz o economista Fábio Silveira, sócio da RC Consultores. Segundo ele, o setor de bens de capital é um dos segmentos da indústria brasileira que enfrenta problemas de competitividade, não apenas por causa do câmbio valorizado, mas também em razão da carga tributaria elevada e do ainda elevado custo de capital. "Fica difícil competir em alguns segmentos com produtos estrangeiros, principalmente com os de origem asiática", afirma ele.
O professor Paulo Gala, da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que, num cenário de câmbio extremamente valorizado e demanda muito aquecida, as importações de bens de capital explodem. "Juntou-se a fome com a vontade de comer", diz. "Se o dólar estivesse em R$ 2,30, o aumento das importações teria uma trajetória mais saudável." Gala se preocupa com a indústria de máquinas e equipamentos, considerando fundamental que o país tenha a capacidade de fabricar produtos mais avançados do ponto de vista tecnológico. "Abrir mão de produzir bens de capital mais sofisticados é abrir mão do desenvolvimento."
Além da concorrência dos importados, a indústria também enfrenta dificuldades para exportar, dada a demanda global fraca e o dólar barato. Isso explica o encolhimento da fatia da produção nacional destinada às exportações.
Fonte: Valor Econômico

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